sou vazio de mim mesmo. tenho paredes externas com hieróglifos, dos quais ninguém sabe decifrar. nem mesmo eu. às vezes, com jeitinho, consigo mudá-los. mas não é certo o que eu faço. sou confuso e sempre acho que não sou meu próprio dono. contudo, tenho meu amor, o amor próprio e, isso torna-se um campo de força estável, que nem sempre me nutre, mas sempre me ergue. virei dependente desse amor, algo como um morro que auxilia. minutos e horas transformam-se em anos, quando não estou perto dele. melhor seria me encontrar 24 horas dentro de mim mesmo, assim a angústia do novo que me persegue, ficaria longe.
sei que em algum canto de dentro, há uma divisão: uma para mim e outra para quem eu achar que deve. penso que a solidão é doce e fugaz, mas se esse espaço existe, porque não ocupá-lo? afinal, a solidão não é constante. me apaixonar é estranho, queria poder fazê-lo sempre, assim o sofrimento não seria rápido o suficiente para tomar conta de mim. a metamorfose (a mudança) me dominou, agora já não me conheço, os hieróglifos mudaram e, com isso adquiri mil faces. uma à uma, com cor de cabelo, olhos e cor de pele, aleatórios, alternando estilos. virei, virei um tudo humano. não sou falso, não pensem isso, sou um garoto metamórfico, que muda de visão como quem muda de roupa. e assim, segue sua pacata vida, em sua pequena cidade. a cidade de dentro.